Os Dois Paulos
As escrituras registram grande parte do trato de Yahweh de igual modo com Seus servos e inimigos nas páginas da Bíblia. Até os personagens mais queridos, como Elias e o rei Davi, têm tanto seus triunfos como suas falhas fielmente registrados em um testemunho que durará até o fim dos tempos. Isso tem sido uma fonte de encorajamento para aqueles que creem que são muito maus para se aproximar de Cristo, e também para aqueles que, devido a erros de julgamento encontraram-se em circunstâncias lamentáveis. Yahweh é paciente com Seus filhos, e está sempre buscando elevá-los à medida da estatura completa de Cristo. Efésios 4:13.
Infelizmente, alguns usarão esses registros infalíveis como licença para justificar suas próprias falhas contínuas; de fato, alguns acreditam que não é necessário andar na perfeição oferecida a nós pela morte e ressurreição do Messias (Mateus 5:48) porque: "Até Davi pecou depois de conhecer a Deus". Contudo, Paulo fala às pessoas que usariam os erros dos outros para justificar o pecado em suas próprias vidas: “Tu, ó homem, que condenas os que praticam tais coisas e fazes as mesmas, pensas que te livrarás do juízo de Deus? Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”. Romanos 2:3-5. Se julgamos as ações dos outros como pecaminosas, no entanto andamos da mesma maneira, sem aprender com seus erros, certamente estamos desprezando a paciência do Senhor. Em outras palavras, Ele foi paciente com eles, e Ele é longânimo conosco, MAS - aquela bondade e a paciência são dadas com um propósito: dar-nos tempo para ver nossos erros e nos arrepender sinceramente. Somente os que têm corações duros e impenitentes, escreve o apóstolo, deliberadamente entesourariam a ira contra si mesmos, ignorando a natureza desse dom do tempo.
Essa paciência de maneira alguma deixa de lado a promessa abençoada de que, “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus. 1 João 3:9. Se lembrarmos que o uso da palavra "pecado" por João fala de motivo (anomia, sem lei – 1João 3:4), e não de transgressão da lei, como a frase é frequentemente traduzida, nós entendemos que há uma diferença entre pecados cometidos por ignorânia, e pecados cometidos com um objetivo intencional de rebelião. (Lev 4:2, Lev 5:15, Num 15:24). Vida pode ser dada por esses pecados dos quais somos ignorantes ou surpreendidos (1 João 5:16), mas pelos pecados que cometemos propositadamente, usando as falhas de outros para nos justificar conscientemente - estes são o resultado de um coração que não é nem regenerado, nem sujeito ao céu. Tal pessoa, dada à licenciosidade, precisa não apenas se arrepender dos pecados específicos em si, mas também se converter ao caminho de Cristo.
A pergunta que deveria ser feita é: Davi é nosso exemplo? Elias é nosso exemplo? Está escrito sobre aqueles que refletirão mais perfeitamente o Messias para o mundo - os 144.000: “São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro;” Apocalipse 14:4. Mesmo para aqueles que estavam vivos e morreram antes desse tempo, Paulo diz: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” 1 Cor. 11:1. O Messias somente é nosso exemplo; e a nós que vivemos segundo aquele mais perfeito exemplo, foi dado ter a abençoada oportunidade de andar plenamente nessa luz.
Novamente em Romanos diz: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;” Romanos 1:20.
Essa demonstração da divindade na vida de Cristo remove qualquer desculpa para o pecado intencional. Ele mesmo disse sobre aqueles que continuaram (e ensinaram a continuação) em erros conhecidos, “Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado.” João 15:22. Por isso está escrito em Atos: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam;” Atos 17:30. Nós, que temos Cristo vivendo em nós de uma maneira não descrita na escritura antes da Cruz “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” Gálatas 2:20 são dadas a graça e a fé para alcançá-la, para tornar todas as promessas de Yahweh de plena eficácia, pois, “Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê.” Marcos 9:23 sim - mesmo a pureza de vida que o Céu nos eferece.
Paulo também disse que ele era um exemplo, não disse? Nós lemos acima a sua afirmação em 1 Cor. 11, e novamente ele diz, “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.” Filipenses 3:17. Isso pode ser confuso para alguns, porque Paulo faz essa afirmação no mesmo capítulo: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.” Filipenses 3:12 A afirmação de Paulo de que ele "ainda não é perfeito" nos dá uma desculpa para pecar? Certamente que não, pois ele diz logo em seguida, “Todos, pois, que SOMOS perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.” Filipenses 3:15.
Isso não é uma contradição. No grego, do qual esses versos foram traduzidos, são usadas duas palavras diferentes para “perfeito”. Quando Paulo diz que ele ainda não é perfeito, aquela é a palavra grega teleioo, que significa "realizar completamente, ser levado a um fim". Em outras palavras, Paulo ainda tinha mais a aprender e a crescer. A parábola da colheita do Messias é aplicável a esse exemplo. Aos olhos do céu, a caminhada da santificação é, “primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga.” Marcos 4:28b). Porém, a cada estágio o grão está perfeito de acordo com a segunda definição da palavra que Paulo usa. Quando ele escreve, “a tantos quanto são perfeitos”, essa é outra palavra relacionada a teleioos, que significa “em nada deficiente do que é necessário para ser completo”. Algumas das várias definições se sobrepõem, mas a distinção e a razão para as duas palavras diferentes, deveria estar claro. O verdadeiro cristão não tem falta de nada necessário para ser completo, e tem um coração perfeitamente dedicado à justiça, mesmo enquanto continua a crescer até a forma completa de perfeição, "teleioo".
Quando Cristo disse “sede perfeitos”, esse era o segundo tipo: perfeição de motivo que Ele se referia em Mateus 5:48 e não uma falta de virtude. Deste modo será cumprida a promessa nos crentes, “Perfeito serás para com o SENHOR, teu Deus.” Deuteronômio 18:13. Paulo conclui sua fala sobre perfeição dizendo, “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá.” Filipenses 3:15. Aqui novamente é a longanimidade de Yahweh revelada, que nos leva ao arrependimento, como ele aponta mais claramente em sua carta aos romanos. Paulo é totalmente consistente nesse ponto. Há, no entanto, um lugar nas Escrituras que as pessoas sustentarão como um escudo para essa consistência. Eles dirão: “Mas mesmo Paulo, após a conversão, fez coisas que sabia estar errado.” E eu perguntarei: “Onde?”, Sabendo exatamente o que eles dirão a seguir. Invariavelmente, a resposta volta com confiança: "Romanos 7."
A chave para entender Romanos 7 é ler o capítulo no seu devido lugar. Isto é, não deve ser separado de Romanos 6 à sua frente e Romanos 8 depois dele. Por exemplo, Romanos 7 cai naturalmente entre as duas declarações a seguir: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Romanos 6:1-4. E “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis. Romanos 8:1, 8, 9, 13.
Tanto antes como depois, Paulo aponta que uma pessoa caminhando em “novidade de vida” está morto para o pecado, e não o comete mais – um pensamento que João ressoou muitos anos mais tarde. O Evangelho não havia mudado durante todo esse tempo e não mudou 2000 anos depois do início dessas linhas. O propósito de Romanos 7 não era uma declaração da contínua pecaminosidade de Paulo - não, era uma demonstração do poder de Yahshua de purificar o pecado, que está na carne (em oposição ao espírito).
Paulo começa Romanos 7 com a seguinte analogia: “Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias.” Romanos 7:2-3. Ele então aplica isso a lei do pecado, e a lei da liberdade em Cristo: “Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte. (Versos 4 e 5)
Ele está prestes a falar de dois Paulos, aqui em Romanos 7. Nos versos 4 e 5, o apóstolo introduz um elemento tempo. Aqueles em Cristo “estão mortos para o pecado”, mas “enquanto nós estavamos na carne” nós ainda eramos casados com o “velho homem” sem liberdade para casar com outro, que é Cristo. Essas declarações tem confundido muitas pessoas, e aqueles que desejavam justificar o pecado continuado, mesmo que afirmando serem "salvos", levaram as Escrituras dos escritos de Paulo "à sua própria destruição", como Pedro predisse. (2Peter 3:15,16) Mas as Escrituras nos perguntam nitidamente: “Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações! Jeremias 7:9-10.
Precisamos entender o elemento tempo de Romanos 7 antes que ele se encaixe adequadamente na configuração dos capítulos 6 e 8. O objetivo do capítulo 7 é pontuar duas questões principais:
1) o pecado vem das tentações que afetam nossa carne, e 2) enquanto estivermos em sujeição/escravidão a essa carne, não somos livres para nos casar com Cristo. Portanto, Paulo está falando da sua experiência da pré conversão, enquanto ele estava sob a lei, antes de morrer para esse modo de pensar (mente carnal) e se tornar cristão.
Isso é claramente ilustrado se considerarmos o capítulo como um todo. O elemento de tempo introduzido nos versículos 4 e 5 (então sob a lei, agora se tornou morto para a lei) é levado adiante para mostrar a experiência de Paulo. Para resumir os eventos: Paulo pensa que pode ser justificado pela obediência à lei "em que estávamos (no passado) retidos". (Versículo 6) Ele descobre que a santa lei também fala de motivos, como a concupiscência. (versículo 7). Ele se vê convencido pelo Espírito de acordo com esse padrão de santidade e descobre que é digno da morte (versos 8-12). Ele descobre que, embora ele queira obedecer com seu espírito, sua carne o impede (versículos 14-17). Ele reitera que esse pecado é um fenômeno carnal, encontrado nos membros do corpo e relacionado aos desejos que não foram dominados e que são indomáveis no pecador não regenerado (versículos 18-23). Finalmente, ele lamenta sua condição e clama desesperado, “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Romanos 7:24.
Se o capítulo e a seqüência de pensamento terminassem ali, estaríamos deixando Paulo em uma triste condição. No entanto, há mais um versículo em Romanos 7 e uma continuação do pensamento no capítulo 8. Romanos 7:25 diz: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.” Romanos 7:25. Se parássemos lá, aqueles que se opõem às boas novas da vitória sobre o pecado diriam: “Veja, mesmo depois dessa conversão, onde ele é libertado por Cristo, ele ainda serve ao pecado 'com a carne'”. E isso é verdade , no entanto, devemos ler a primeira linha de Romanos 8 também. Paulo não dividiu sua carta em capítulos, mas esperava que ela fosse lida como uma dissertação contínua. Se lemos Romanos 7 e terminamos no verso 25, indo para a cama seguros em nossa pecaminosidade, não alcançamos em nada o propósito do livro de Romanos.
Romanos 7:25 e 8: 1 tomados juntos, como foram originalmente apresentados, dizem: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Aqui, Paulo traz seus leitores de volta à sua condição atual. Se por um lado ele foi libertado por Cristo, a sua carne ainda é pecaminosa e sujeita à tentação. No entanto, por causa daquele que realmente o libertou do corpo da morte, ele agora não anda (obedece) mais segundo à carne que ainda serve à lei do pecado. Agora ele é trazido à imagem de Cristo, que “um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.” Hebreus 4:15.
Sim, continuaremos a ser tentados até recebermos nossos corpos novos e incorruptíveis, porém a carne está sujeita ao espírito agora, para aqueles que foram libertados em Cristo. Todo o capítulo de Romanos 8 é uma "marcha de vitória" para aqueles que dominam a carne pelo poder do Espírito, deste modo agradando a Deus, “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” Romanos 8:14.
Há algo que podemos fazer que demonstrará de maneira mais impressionante a diferença entre os dois Paulos (o não convertido em Rm 7 e o convertido nos capítulos 6,8 e todas as outras cartas que ele escreve). Precisamos apenas listar as características que ele atribui a si mesmo no capítulo 7 e contrastá-las com as características que ele atribui a si mesmo em qualquer outro lugar. A tabela a seguir mostrará a diferença de forma mais dramática entre o Paulo do passado, que estava sob a lei e, portanto, não era livre para se casar com Cristo, e o apóstolo que escreve com confiança, “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” 2 Timóteo 4:8. Há um grande abismo (Lucas 16:26) entre os que estão em Cristo e os que estão no mundo, e somente por uma morte verdadeira, a morte da conversão, é que as praias da vida podem ser alcançadas e sair do poço da destruição.
Esta breve tabela mostra uma vasta diferença entre os dois Paulos e o elemento do tempo introduzido em sua carta (em Romanos 7: 4,5 e 8: 1) explica a razão disso com muita clareza. O mesmo Evangelho da liberdade em Cristo que o converteu de fariseu irado e perigoso para o gentil apóstolo que escreveu com lágrimas e angústia para aqueles que estavam pervertendo a mensagem da salvação e usando-a para justificar suas ações pecaminosas (2Cor 2: 4) é o mesmo Evangelho que está sendo ensinado hoje pela Noiva do Messias.
Que uma adequada divisão das Escrituras revele o verdadeiro Evangelho de Cristo, conforme ensinado por Paulo e pelos apóstolos - liberdade do pecado em Cristo Yahshua. “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” João 8:34-36
David P. Aguilar
Traduzido por Sis. Arlete
